Reflexões sobre o luto

A descoberta do sentimento em nós

É na morte que damos sentido à vida.

Quando conhecemos a nossa finitude (por consequência de uma doença grave), fazemos reflexões internas profundas. Deixa de haver razão para a materialidade e passamos a descobrir sentimentos que queremos partilhar com os outros. A racionalidade passa para segundo plano. Na morte é comum os familiares reatarem relações que estavam há muito quebradas. Também é comum que digamos à pessoa que vai morrer (ou que já morreu): "Amo-te", "Não sei o que fazer para viver sem ti" ou "Perdoa-me". A intimidade entre aquele que morre e os que lhe estão relacionados é uma peça chave para a aceitação de todo o processo e para a elaboração de um luto salutar assente nas boas recordações e na presença espiritual daqueles que irão partir. Por mais doloroso que seja o processo de morrer, muitas pessoas aprendem a viver, dando um novo sentido à sua vida.

Uma mulher mastectomizada encontrou na doença o seu novo sentido de vida: viver com otimismo. Viver cada dia como se fosse o último. Para dar mais de si, o que até à data do diagnóstico não o fazia, esta mulher dedica a sua vida a ser voluntária junto de crianças e seus familiares (com a doença de cancro), no sentido de apoiar na doença e acalentar a dor. É notável estar na presença desta mulher que durante o workshop disse-me a mim e ao grupo: "Vivo mais agora, porque sei que amanhã posso morrer e não quero deixar nada por fazer!"

Obrigado a esta mulher pela envolvência e por ser uma fonte viva da transmissão da empatia humana e da necessidade que temos de nos‘despir"’ das máscaras que ofuscam a nossa verdadeira natureza.

Victor Sebastião
Licenciatura em Psicologia Social e das Organizações (2001) pelo ISCTE
Mestrado em Psicologia Clínica (2012) pela FCHS, Universidade Lusíada de Lisboa
A frequentar o curso de Especialização em Psicodiagnóstico e Intervenção Psicoterapeutica de Apoio
Mediação e Meios Alternativos de Resolução de Conflitos (2008) pela MEDIARCOM

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