Reflexões sobre o luto

Ferramentas úteis na relação de ajuda para pessoas que lidam com idosos

A principal regra de outro no acompanhamento do luto nos idosos é reconhecer a sua dor, e não desvalorizá-la. É fundamental acompanhar regularmente o idoso, respondendo às suas necessidades e legitimar as suas estratégias no que concerne a uma adaptação mais suave e integrada à nova realidade que se lhe apresenta. Em suma, é na relação com o idoso que se pode oferecer a confiança e a segurança que deverá estar assente nas seguintes premissas1:

  • Ouvir a história de vida, reconhecer as perdas e validar as estratégias e mecanismos de proteção;
  • Disponibilizar presença ativa e contínua;
  • Oferecer afeto e carinho, através de uma atitude confiante e protetora (sem infantilizar ou ser paternalista);
  • Dar autonomia nas decisões do dia-a-dia, facilitando tarefas ou desempenhando papéis que estavam a cargo da pessoa falecida;
  • Oferecer-se para acompanhar nas idas ao cemitério, ou outros rituais que permitam a manutenção simbólica da relação (ajudar a recordar).

 

Algumas perguntas típicas sobre o luto na terceira idade:

Sabendo a ligação que casais de longa data criam e mantêm com o avançar da idade, como ajudar um deles a preparar-se ou superar a perda de um dos elementos? (Filipe Maia, 33 anos, técnico de manutenção)

Sabemos que a ligação afetiva é um fator (de risco) que poderá exigir uma adaptação mais difícil ao sobrevivente (viúvo(a)). Além da ligação afetiva, está a história de vida construída até ao momento da morte e a sensação de futuro não vivido ao lado de alguém com quem projetamos o desejo de “morrer juntos”. Torna-se fundamental construir uma relação que permita ao sobrevivente tomar contacto com esta nova realidade, oferecendo disponibilidade para ouvir a sua história e ajudar nas dificuldade que poderão surgir no dia-a-dia, sem pressões, julgamentos ou críticas. Não podemos esquecer, que os idosos podem possuir recursos pessoais para lidar com as perdas significativas e a nossa relação deverá incidir na validação das mesmas. Não podemos, contudo, descurar que, por vezes, a dimensão da dor e do sofrimento pode acarretar custos para o bem-estar psicológico e físico. Devemos estar atentos, no sentido de criar pontes multidisciplinares que permitam a outras áreas de intervenção responder às necessidades sentidas e sobre as quais se exige um cuidado especial que pode não se adequar às nossas competências.

Como comunicar a notícia da morte de uma neta adulta (a única familiar presente na vida do idoso institucionalizado) a um avô? (Maria Linda Palma, vice-presidente de uma associação de cariz geriátrico)

Dar a notícia da morte a alguém poderá ser um evento traumático, quer para o transmissor como para o recetor. No caso dos idosos institucionalizados, existe sempre a dificuldade por parte do profissional, cuja relação com o falecido também resulta de uma ligação vinculativa cheia de significado, sobretudo através do ato de cuidar. Transmitir a notícia da morte é alterar drasticamente o futuro de quem a recebe2.
A ‘verdade’ deverá ser sempre o ingrediente principal quando se transmitem más notícias. Contudo, a verdade deverá ser doseada consoante a iniciativa e a capacidade de integração da informação que damos, mantendo sempre uma atenção dirigida e sintonia através da comunicação não-verbal do recetor (olhar, gestos, mímicas, postura corporal, sinais somáticos que possam evidenciar emoções como o medo, a zanga, a tristeza).  É fundamental respeitar aquilo que o outro deseja saber, contrastado com o fato de que temos que passar a informação de forma clara, objetiva, honesta e sem utilizar eufemismos ou atitudes moralistas que quebrem a confiança empática (por exemplo: “Agora tem que ser forte” ou “Ela não queria vê-lo assim”). Deve-se, também, escolher o local onde se irá transmitir a notícia. O local deverá ser reservado e não devemos utilizar barreiras entre os interlocutores (sentar-se ao lado, olhar nos olhos, poder tocar no outro). Deve-se, ainda, na transmissão de más notícias, evitar:   

1) Mentir;
2) Não permitir a expressão das emoções;
3) Ser rápido na informação prestada;
4) Não fazer pausas durante a informação prestada;
5) Não se disponibilizar para oferecer ajuda no que for necessário;
6) Assumir uma atitude paternalista ou infantilizar o recetor;
7) Dar informação sobre a causa de morte (no caso do emissor não ser médico. Em alternativa, podemos dizer “Segundo o médico parece ter-se tratado de...”).

 

Victor Sebastião

1 Sebastião, V. (2016). Guia prático de apoio ao luto: ajudar a enfrentar a perda de um ente querido. Servilusa
2 Twycross, R. (2003). Cuidados Paliativos. Lisboa: Climepsi

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