Torna-se importante saber que o luto, como resposta a uma perda significativa, é variável de pessoa para pessoa, tendo em conta os mediadores que o influenciam o os contextos onde ocorre.
Assim, apesar de haver manifestações ‘típicas’ num processo de luto (por exemplo: sentir saudade, chorar, sentir dor ao se pensar no ente querido que faleceu...), algumas normas sociais e culturais podem condicionar a forma como apoiamos uma pessoa em luto. Isto porque estas normas podem ditar a manifestação da perda através de certos comportamentos ou emoções e, por conseguinte, condicionam a individualidade e subjetividade de cada pessoa em relação à trajetória do seu luto.
Não é expetável que todas as pessoas em luto desejem vestir o preto como forma simbólica de demonstrar a sua dor ou representar o seu papel de enlutado junto dos seus pares. Lembremos que cada pessoa procura uma resposta ao seu luto no sentido de o integrar de forma plena.
Neste pressuposto, verifique o quadro em baixo com os principais mitos e verdades sobre o luto (adaptado de “II Curso de Terapeutas do Luto”, da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa):
Mitos | Factos |
O luto faz-se se acordo com fases. | O luto é um processo individual e único em cada sujeito, embora algumas reações sejam comuns. |
A pessoa em luto tem que passar por todas as fases. | O luto tem oscilações, assim como avanços e recuos, em função de acontecimentos desancadeantes (por exemplo: datas especiais, cheiros, objetos). |
A pessoa em luto deve retomar a sua vida normal o mais cedo possível. | No luto, não existem palavras como o “deve” ou o “tem que”. Cada pessoa fará aquilo que a sua necessidade e vontade ditarem, sem qualquer tipo de pressão ou julgamento por parte de quem presta apoio. |
A pessoa em luto deve evitar chorar. | É natural chorar. Significa que a perda traz dor, saudade, tristeza. No luto, chorar mais não significa que a pessoa esteja pior ou que não esteja a integrar o seu luto. É acima de tudo uma forma de expressão emocional |
Lembrar e pensar sobre o que aconteceu só traz mais dor. | Recordar o que aconteceu é uma necessidade da pessoa em luto. Ajuda a compreender e a lidar com os acontecimentos, embora possa trazer dor. |
O tempo cura tudo. | O tempo de luto pode passar sem mudar nada, ou pode ser utilizado para tratar. É como se a perda deixasse uma ferida aberta que precisa de tempo para curar, mas, sobretudo, de cuidados adequados, caso contrário, tem tendência a piorar. |
As pessoas vão afastar-se de si e vai perder amizades. | As pessoas evitam aquilo que desconhecem ou que lhes causa emoções difíceis de controlar. Não sabem o que dizer para ajudar. Sentem desconforto. Diga-lhes como gostava que falassem consigo. |
As pessoas que não choram e que rapidamente ‘tiram’ o luto não sentem a perda. | O luto pode manifestar-se através de comportamentos e rituais (chorar, vestir de preto), mas algumas pessoas sentem interiormente e não expressam a dor para o meio exterior. |
Sentimentos de revolta e de culpa não são bons para a pessoa em luto. | A revolta e a culpa são sentimentos normais no luto. Zangamo-nos quando pensamos que alguma coisa poderia ter sido feita para evitar o que aconteceu, ou sentimos culpa por pensarmos que não fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para proteger a pessoa que morreu. |
Deve abdicar de todos os objetos e pertences que fazem lembrar que a pessoa morreu. | É normal que as pessoas gostem de manter alguns objetos pessoais que fazem lembrar a pessoa que perderam. É uma forma simbólica de a ter presente. |
Os medicamentos, as drogas e o álcool aliviam a dor do luto. (Barbosa, 2016) | Trata-se apenas de formas para camuflar a dor e não integrar o luto de forma natural. |
O luto torna as famílias mais unidas. (Barbosa, 2016) | Quando existe capacidade para os elementos se apoiarem e expressarem o que sentem, a família pode ser um importante recurso. Contudo, por vezes, a morte de um ente querido cria conflitos e rutura entre os elementos familiares. |
Victor Sebastião
Referências
Barbosa, A. (2016). Fazer o luto. Lisboa: Centro de Bioética da Faculdade de Medicina de Lisboa
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