A perda de uma pessoa que nos é querida abala, inevitavelmente, o nosso mundo interno (emoções, pensamentos, comportamentos, sensações) e o nosso mundo externo (relação com os outros, percepção que temos sobre o mundo). Por vezes, perder um ente querido faz-nos sentir que perdemos uma parte de nós, que ficamos incompletos. Dessa incompletude, surge a necessidade de dar sentido ao que perdemos, reconstruindo um novo significado para a ligação afetiva e emocional com a pessoa falecida. É nessa reconstrução de significado que pode surgir a sensação de vazio e de falta de reciprocidade por tudo aquilo que só o falecido nos dava e que sentimos estar em falta.
‘Só ele me dizia o quanto eu era bonita!’
‘Ela conseguia fazer-me sentir especial!’
‘Agora que morreu, tudo deixou de fazer sentido para mim. Só era feliz com ela.
(Exemplos de narrativas de pessoas em luto que expressam o espelho roto – representações mentais e emocionais que se relacionam com a percepção que a pessoa em luto tem daquilo que a pessoa falecida lhe dava do ponto de vista relacional)
Claro que está que se torna necessário identificar as necessidades relacionais que surgem na pessoa em luto, e que necessariamente o profissional da relação de ajuda terá de responder. Isto exige uma escuta ativa que permita ouvir a interpretar toda a narrativa da pessoa em luto (a forma como se expressa do ponto de vista não-verbal e aquilo que expressa do ponto de vista verbal), assim como respeitar o tempo e o ritmo que a pessoa em luto necessita para integrar a perda e entrar em contato com a realidade e a dor da perda.
A clara identificação e resposta às necessidades relacionais da pessoa em luto permitem o estabelecimento de uma relação de ajuda assente na confiança, proteção e segurança, assim como ajudam a compreender os sentimentos, emoções, comportamentos, sensações e motivações da pessoa em luto (Sebastião, 2015)1.
As necessidades relacionais quando não são identificadas ou respondidas, criam na pessoa em luto uma sensação de incompreensão, solidão e até agressividade.
As necessidades relacionais são as seguintes (Erskine, 1999)2:
a) Sentir segurança e ser protegido
b) Ser escutado e aceite
c) Ser valorizado
d) Estar numa relação de reciprocidade
e) Auto-definição e auto-afirmação
f) Provocar impacto nos outros
g) Estar numa relação em que o outro tome a iniciativa
h) Poder expressar amor
Os próximos textos deste blogue, irão debruçar-se sobre cada uma destas necessidades relacionais em termos da sua descrição, assim como as ferramentas necessárias para a sua identificação e resposta sintónica.
Victor Sebastião
1 Sebastião. V. (2015). Guia prático de apoio ao luto. Ajudar a enfrentar a morte de um ente querido. Alfragide: Servilusa
2 Erskine, 1999, cit. por Payás, 2010. Las tareas del duelo. Psicoterapia de duelo desde un modelo integrativo-relacional. Barcelona Paidós
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