“Uma cliente entrou na loja (agência funerária) e solicitou informações sobre um funeral para a sua mãe que estava a morrer. Durante a nossa conversa, a cliente perguntou-me, algumas vezes, se seria eu que iria tratar de tudo. Eu expliquei que a minha função seria acolhê-la naquele momento e que a realização da contratação funerária e do funeral em si seriam realizados por colegas meus com funções diferentes da minha. Percebi, contudo, que para ela era importante eu estar presente durante maior parte do processo. Antes de ter entrado na loja, naquele dia, esta cliente já passava aqui à porta todos os dias e olhava para mim, já me conhecia e eu tinha-me tornado familiar para ela. Para a tranquilizar, disse-lhe que podia visitá-la durante o velório e que estaria sempre disponível para o que necessitasse após o funeral.” (Testemunho de Rosalina Castro, técnica administrativa da Loja Servilusa Odivelas, setembro de 2017)
A mensagem principal deste testemunho reside na relação que podemos oferecer a uma pessoa em luto.
Trata-se, pois, de uma relação profissional assente em objetivos de apoio instrumental (nomeadamente, as informações sobre o funeral), mas, também, de apoio emocional e afetivo. É uma relação de “Eu estou aqui e quero que saibas que me importo contigo”.
O profissional sabe que deverá prestar apoio, tendo em conta as suas responsabilidades funcionais. Da mesma forma, a relação profissional com uma pessoa em luto deve incluir a resposta sintónica e empática às suas necessidades relacionais, sobretudo quando a pessoa está aberta ao contacto com a realidade da perda.
O testemunho acima descrito apresenta-nos uma filha em luto antecipatório pela morte eminente da sua mãe e, no momento concreto, o contexto prende-se com a necessidade de saber informações sobre o funeral. Como é bom ver, esta filha depara-se com um conjunto de decisões extremamente difíceis e dolorosas: a escolha da urna, das flores, dos serviços apensos ao funeral, por forma, a homenagear a sua mãe. O profissional deve conseguir evidenciar empatia na forma como se oferece para responder às necessidades relacionais da pessoa em luto, permitindo oferecer presença ativa, que, para todo o ser humano, é tão importante e imprescindível. A resposta à necessidade de proteção e segurança, assim como de tomar a iniciativa, podem contribuir para que a pessoa em luto possa sentir na relação profissional um recurso estratégico na integração do seu luto – no caso deste testemunho, estar ao lado de um profissional que possa ajudar a resolver todas as tarefas administrativas e burocráticas inerentes ao óbito, mas também como recurso ao apoio emocional necessário no momento da perda e na altura catártica do funeral, onde o contacto com a realidade da perda pode exigir demais da pessoa em luto.
A relação é, assim, uma ferramenta de apoio à integração de um luto, pois é nessa relação que a pessoa em luto se permite tomar contacto com a dor da sua perda e sente reciprocidade por parte do profissional que a acompanha, sem julgamentos, ou pressas, apenas com confiança e segurança.
Victor Sebastião
- Inicie sessão ou registe-se para publicar comentários