Victor Sebastião
Licenciatura em Psicologia Social e das Organizações (2001) pelo ISCTE
Mestrado em Psicologia Clínica (2012) pela FCHS, Universidade Lusíada de Lisboa
A frequentar o curso de Especialização em Psicodiagnóstico e Intervenção Psicoterapeutica de Apoio
Mediação e Meios Alternativos de Resolução de Conflitos (2008) pela MEDIARCOM
Vários participantes colocam estas questões. Aliás, vários iniciam o workshop e comentam "Espero que isto seja fácil", "4 horas a falar sobre a morte... vai ser duro!" ou "Tenho que lidar com isto, mas não consigo".
Durante o workshop os participantes são convidados a refletir sobre o "sentido da vida" e "o que significa morrer". Poucos são os audazes que conseguem fazê-lo imediatamente. Olham para o vazio, evitam olhar para mim... sentem que lhes vou perguntar diretamente para que falem alto e para o grupo. Tal não acontece, pois a reflexão é individual e deve ser escrita numa folha. Reparo que a maior parte das pessoas não consegue escrever sobre qualquer um dos dois temas acima referidos. É dada a liberdade para que o façam no decorrer do workshop e que no final deverão devolver-me a folha com as suas reflexões individuais.
Apresento algumas linhas explicativas do ponto de vista histórico-social para o afastamento do discurso social sobre a morte e o morrer que, para mim, fazem muito sentido. Podemos analisar a representação social da morte e do morrer num continuum evolutivo em comparação ao desenvolvimento das sociedades humanas (Oliveira, 2008):
1 - Século XII e XIV - A morte de si próprio - A morte faz parte do ritual de vida das unidades familiares; a esperança média de vida é pequena e as condições de vida muito difíceis, por isso, a pessoa aceitava a sua condição sem qualquer pudor; a cerimónia da morte é pública, mas em contexto familiar; a "morte boa" é aquela que não traz uma doença que marque o corpo (o corpo tem de estar em condições, pois é assim que irá para o além vida - visão espiritista);
2 - Século XVIII - A morte do outro - A morte passa a ser receada por ser vista como a separação do outro; distanciamento com a morte que provoca repúdio, dramatismo, tensão interna e censura por parte dos outros;
3 - Atualidade - A morte interdita - Tecnicismo científico e aumento da esperança média de vida; a morte e os rituais decorrem longe do contexto familiar (podendo ser escondida a alguns elementos, tais como, crianças e idosos); mudança na exteriorização de sentimentos (no início do século contratam-se carpideiras para chorar pelos familiares, atualmente existe uma clara tendência para ocultar os sentimentos de luto).
A morte e o morrer não fazem parte do diálogo social nem da preparação dos profissionais (pessoas) que lidam ou poderão lidar com eles.
"Eu meto medo às pessoas. Elas têm medo do sofrimento e têm medo da morte. Eu incomodo-as."
(Um doente de 43 anos, citado por Winckler, citado por Oliveira, pp. 124 no livro "O Desafio da Morte")