“A expansão do envelhecer não é um problema. É sim uma das maiores conquistas da humanidade. O que é necessário é traçarem-se políticas ajustadas para envelhecer são, autónomo, activo e plenamente integrado. A não se fazerem reformas radicais, teremos em mãos uma bomba relógio a explodir em qualquer altura”
Kofi Annan (2002)
O envelhecimento é um processo natural, de diminuição progressiva e diferencial. No mundo contemporâneo as sociedades estão a envelhecer e, consequentemente, a esperança média de vida está a aumentar para ambos os géneros. Para além dos ganhos individuais que este fenómeno acarreta, existem igualmente desafios para as sociedades europeias, em particular para a portuguesa.
Segundo o Relatório das Nações Unidas, de 2015, na Europa 24% da população já estaria com 60 anos ou mais e esperava-se alcançar 34% em 2050 e 35% em 2100. Conforme os dados deste relatório, em 2030, Portugal será o terceiro país do mundo com a população mais envelhecida (50,2 anos em média), em segundo lugar será o Japão (51,5) e em primeiro lugar será a Itália (50,8).
Este crescimento da população idosa tem levado à diversificação das ofertas das respostas sociais para esta população. Anteriormente, a prestação de apoio e de cuidados às pessoas idosas era da responsabilidade exclusiva da família, sendo assegurados no domicílio. Contudo, nas últimas décadas, têm decorrido alterações sociais e demográficas que têm vindo a condicionar a ajuda das famílias aos seus idosos. As famílias tradicionalmente multigeracionais têm vindo a dar lugar a famílias nucleares, conduzindo a um isolamento cada vez maior dos mais velhos. Assim, na última década, a criação de equipamentos sociais (por entidades lucrativas e não lucrativas) para esta população é uma realidade que continua a crescer de modo a suprir as necessidades deste grupo etário e complementar o apoio prestado pela família.
Perante este cenário coloca-se um enorme desafio para a sociedade portuguesa: como vamos continuar a cuidar das pessoas mais velhas de forma digna? Como vamos promover a sua autonomia? As respostas a estas questões não são fáceis. Apesar do aumento e da diversificação das respostas a esta população, (que é fundamental que continue e seja uma realidade em todo o território), é também importante cada vez mais existirem cuidados personalizados às necessidades de cada pessoa idosa promovendo a autonomia da mesma.
A autonomia é a capacidade para se auto-dirigir, ser livre de escolher o que fazer, livre de interferências ou de terceiros, apesar dessas escolhas poderem ser implementadas por terceiros. É também a capacidade de decisão, comando, independência pela capacidade de realizar algo com seus próprios meios. Em suma, a autonomia refere-se ao estado de ser capaz de estabelecer e seguir suas próprias regras, construir seu próprio caminho de vida. Muitas pessoas idosas podem ver a sua autonomia diminuída por razões de saúde, que as podem condicionar as suas escolhas. Cabe aos profissionais de saúde e aos cuidadores informais estimularem esses idosos a continuarem a efetuar escolhas diárias de acordo com o seu nível de dependência.
O desafio do envelhecimento ativo com autonomia é para toda a sociedade, e implica-nos a todos sem excepção. Individualmente temos de ter ao longo da vida hábitos saudáveis ao nível da alimentação, exercício físico, gestão de stress e emocional e manter relações sociais de qualidade. Em termos comunitários será importante criar mais oportunidades para que as várias gerações se cruzem através de programas intergeracionais onde os mais velhos levam a sua experiência aos mais novos, e os mais novos partilhem o seu mundo com os mais velhos. Estes programas permitirão desenvolver uma maior interacção entre gerações promovendo um maior respeito pelas pessoas idosas e pelo seu saber! Apesar desta faixa etária ser cada vez maior, há ainda muitos preconceitos associados que limitam a sua intervenção na sociedade actual e no espaço público. Será igualmente importante continuar a apostar na formação dos profissionais que cuidam de pessoas idosas, de modo, a prepará-los para um cuidado mais centrado na pessoa, na sua história e necessidades.
Para que possamos ter uma sociedade verdadeiramente inclusiva e para todas as gerações será fundamental preparar os indivíduos para esta etapa da vida. A existência de programas de preparação para a reforma em empresas pode constituir igualmente um espaço importante em que se estabelecem novos objectivos que permitem valorizar esta fase da vida: abrindo-se novas possibilidades até então esquecidas. Sabe-se que ter metas no período da reforma ajuda ter uma melhor saúde física e psicológica. Para nos sentirmos felizes tem de haver coerência entre os nossos objetivos, os nossos valores e as nossas ações e isso contribui para dar sentido à nossa existência.
A responsabilidade de termos um envelhecimento ativo, digno e com mais saúde começa na juventude, e não está apenas nas mãos dos políticos. Como Joan Baez afirma “Não podemos escolher como vamos morrer. Ou a hora da nossa morte. Só podemos decidir como vamos viver. Agora.”
O que vai fazer por si e pela sua comunidade para que o envelhecimento seja celebrado como uma conquista de toda a humanidade?
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