Reflexões sobre o luto

A importância da comunicação nas relações e instituições

“A melhor forma de comunicar é escutar”

Desconhecido

 

Já parou para pensar sobre a importância da comunicação? Na minha experiência enquanto psicoterapeuta e formadora, deparo-me com esta questão, que é central nas nossas vidas, sem por vezes lhe prestarmos uma verdadeira atenção.  

A palavra “comunicar” provém do latim comunicare e significa “pôr em comum”. Comunicar é um acto fundamental da vida humana, não podemos não comunicar, estamos sempre em interacção com alguma coisa ou com alguém. Comunicar significa, transmitir uma mensagem (ideias, sentimentos e experiências) entre pessoas que conhecem o significado daquilo que se diz e faz. Por outro lado, a comunicação é o mecanismo através do qual as relações humanas existem e se desenvolvem. E tudo começa na escuta do outro, que implica presença física e emocional para se poder entender e compreender a mensagem que tem para nos transmitir.

O psicólogo austríaco Paul Watzlawick desenvolveu com outros colegas uma importante teoria sobre a comunicação, que originou o livro a Pragmática da Comunicação Humana (1967). Estes autores referem que desde o início da nossa existência, vamos adquirindo regras de comunicação que estão imersas nos nossos relacionamentos. Segundo a mesma teoria podemos ter dois tipos de comunicação: a funcional (que é capacidade de unir, de ligar, de nos pôr em relação com o outro) e a disfuncional (que afasta os parceiros ou cria entre eles um ecrã de incompreensão e ressentimentos), sendo fundamental termos consciência da forma como comunicamos e do seu impacto no outro, para desta forma construirmos relações mais saudáveis ao nosso redor.  A teoria da Pragmática da Comunicação fornece-nos uma grelha de leitura para a comunicação interpessoal que assenta em cinco princípios:

  1. É impossível não comunicar: Todo o comportamento é uma forma de comunicação, incluindo o próprio silêncio.
  2. Toda a comunicação tem um aspecto de conteúdo e um aspecto de relação: Isto pressupõe que toda a comunicação tem, além do significado das palavras, mais informações. Por outro lado, quando nos relacionamos, transmitimos informações, que são influenciadas pela qualidade do nosso relacionamento podendo originar outros significados.
  3. A natureza de uma relação depende da intensidade das sequências comunicacionais entre as pessoas:  Cada pessoa constrói uma versão própria do que observa e experimenta, criando uma leitura pessoal dos acontecimentos, que influencia a respectiva comunicação e interacção com o outro.
  4. Os seres humanos comunicam de forma digital e analógica: Para além das próprias palavras, e do que é dito (comunicação digital), a forma como é dito (a linguagem corporal, a gestão dos silêncios, as onomatopeias) também desempenham uma enorme importância – comunicação analógica.
  5. As trocas comunicacionais são simétricas ou complementares: Significa que se podem basear na igualdade ou na diferença.

             Compreendemos assim que, comunicar é um processo mais complexo do que imaginamos, e que depende muito de cada um e da relação que temos com o outro. Por outro lado, neste processo existem barreiras que conduzem a problemas de comunicação na esfera pessoal e profissional. Estas advém das nossas necessidades e experiências; da nossa incapacidade em ouvir; nas nossas resistências internas, dos nossos julgamentos e preconceitos.

Sendo então a comunicação algo tão imprescíndivel ao ser humano, esta constituí uma competência pessoal importante também no mundo profissional. Segundo o professor e escritor Peter Duncker “Sessenta por cento dos problemas das empresas são consequência de uma má comunicação”. Enquanto formadora, verifico que em todas as organizações, sejam públicas ou privadas existem problemas de má comunicação. Estes têm diversos custos, entre eles, o nível de desmotivação das equipas, problemas entre colaboradores e conflitos.

A comunicação dentro das instituições deve ser uma prioridade, devendo estar orientada de acordo com as características da mesma, podendo até existir um gabinete de comunicação, de modo, a abordar esta questão de forma estruturada e organizada.  O fundamental é que a comunicação chegue a todas as pessoas, e por isso é importante pensar nos diversos canais disponíveis (email, comunicados escritos, avisos públicos, etc) para que as pessoas recebam a informação pretendida e estejam a par do que acontece dentro da instituição. Uma boa comunicação institucional ajuda a criar um sentimento de pertença, gerando maior motivação nas pessoas. Desta forma, é importante que o conteúdo a ser transmitido seja claro, concreto e conciso.  Para tal, a forma formal e escrita é mais objetiva, podendo depois ser complementada com uma comunicação presencial e directa, para certificar que a mensagem foi realmente compreendida. Só existe comunicação se os receptores a compreenderam.

Na actualidade muitas instituições de grande dimensão optam pela via digital (email, redes sociais fechadas), enquanto que as mais pequenas afixam informação num placar num espaço comum. Contudo, pode ser insuficiente, e por isso é necessário criar momentos de reflexão nas instituições para se encontrarem formas alternativas e criativas de melhorar a comunicação institucional. Se houver melhor comunicação toda a gente ganha. É igualmente importante, que quando a informação transmitida oralmente, seja feita com clareza e objectividade, num tom de voz adequado e com uma postura que demonstre abertura e confiança.

A par do que pode ser feito por cada instituição/organização quer no âmbito da formação, quer com estratégias mais genéricas, cabe a cada um assumir a responsabilidade em melhorar a forma como comunica no seu dia-á-dia quer na esfera pessoal quer na profissional.

Termino com quatro sugestões para colocar em prática diariamente, para poder ter uma comunicação mais harmoniosa consigo e com os outros:

  • Reflicta diariamente como gostaria de se relacionar consigo e com os outros.
  • Antes de falar, faça uma pausa, observe o que sente, o que está a pensar, e depois escolha as palavras com que se vai dirigir ao outro. Lembre-se que as palavras têm impacto!
  • Lembre-se que todos os seres humanos têm as mesmas necessidades.
  • Antes de concordar ou de discordar com a opinião de alguém, tente ajustar-se às necessidades e sentimentos da pessoa.

Lembre-se que é preciso semear para colher, e que gentileza gera gentileza. Que a gentileza esteja presente na forma de comunicar consigo e com o mundo.