O direito em estar triste!
Estar triste é diferente de estar deprimido!
Habitualmente ouvimos que quando estamos muito tristes é porque estamos deprimidos, imprimindo logo de imediato um carimbo de que algo não está bem connosco.
Contudo, estar triste é uma capacidade saudável. É normal e expectável em algumas situações. Perante um acontecimento doloroso é sadio que tenhamos a capacidade de estar em contacto com a nossa dor emocional, isolarmo-nos com o intuito de refletirmos e darmos a nós mesmos a possibilidade de fazer diferente numa próxima vez.
Infelizmente, a nossa sociedade tem-nos ensinado que aquilo que realmente importa são as conquistas, as alegrias e êxitos e talvez por isso tenha criado um anticorpo tão grande perante a tristeza. Aliás, desafio a cada um de vós a percorrerem as vossas redes sociais e tentarem comparar a quantidade de partilhas sobre alegrias e a quantidade de partilhas sobre a tristeza.
Mas a verdade é que é muito mais saudável poder estar triste do que reagir sempre com uma fuga para a frente (sim, por vezes até pode ser uma boa defesa, mas usada em permanência pode afastar-nos do nosso verdadeiro eu).
Tudo isto é muito distinto de estar deprimido! Estar deprimido implica muitas outras características, um quadro muito mais profundo e que requer um acompanhamento psicoterapêutico.
É facto que sentir tristeza é desagradável e daí que tendamos sempre a fugir dela. Mas é necessário para podermos crescer e retirar aprendizagens de situações na nossa vida que não correram tão bem. Chorar é natural, sentir angústia é natural e até a necessidade de nos afastarmos por momentos de tudo o que nos rodeia é normal.
Talvez o que tenhamos de aprender todos é a tolerar este mal-estar. Aprender a estar sozinho, aprender a escutar as sensações do corpo que daí vêm sem que isso nos assuste ao ponto de acharmos que o Mundo vai acabar ou que nós não somos suficientemente fortes para aguentar. Pelo contrário, a capacidade de sentir tristeza é um verdadeiro sinal de saúde mental e uma verdadeira demonstração de força interna.
Então, mas e o que fazer quando sinto esta tristeza?
Não a mate!
Deixe-a existir, deixe que ela percorra todo o seu corpo. Se as lágrimas tiverem de cair, que caiam.
Se lhe apetecer estar só é tão válido quanto querer estar acompanhado por alguém em quem confie. Todos nós reagimos de forma diferente às coisas e nenhuma delas é correta ou errada, é apenas a nossa forma de ser e é válida. Há quem goste de estar sozinho e ouvir música, por exemplo, e há quem goste de ir ter com um amigo e conversar sobre o que está a acontecer.
O mais importante é que aprenda a lidar com a sua tristeza, não a matando! E lembre-se, depois de dias difíceis vêm sempre dias melhores. A tristeza não dura para sempre!
Com o aproximar das férias, parece que é ainda mais imperativo sentir alegria. Mas por vezes, o ano que passou foi duro, com diversas perdas a vários níveis e por isso mesmo, o tempo de descanso do corpo pode ser o tempo de descanso da alma e podem haver dias tristes nas férias. Não faz mal, encontre em si espaço para eles e espaço para si!
Bibliografia:
Greenberg, L.S. & Paivio, S. (1997). Working with emotions in psychoterapy. The Guilford Press, New York.
Greenberg, L. S., & Bolger, E. (2001). An emotion-focused approach to the overregulation of emotion and emotional pain. Journal of Clinical Psychology, 57(2), 197-211.
Lewis, M., Haviland-Jones, J. M., & Barrett, L. F. (Eds.). (2010). Handbook of emotions. Guilford Press.
Catarina Bragança Nobre
Psicóloga Clínica
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