“Tudo o que existe e vive precisa de ser cuidado para continuar a existir. Uma
planta, uma criança, um idoso, o planeta Terra. Tudo o que vive precisa de ser
alimentado. Assim, o cuidado, a essência da vida humana, precisa de ser continuamente alimentado. O cuidado vive do amor, da ternura, da carícia e da convivência.” (Boff,1999)
- Os cuidados informais
O acto de cuidar está presente na vida dos seres humanos desde o nascimento e torna-se vital para a sobrevivência da espécie. Por isso, podemos afirmar que cuidar é zelar pelo bem-estar do outro, atender às suas necessidades, promover a sua autonomia, respeitando igualmente as suas limitações. Cuidar pressupõe também uma relação de confiança entre quem recebe os cuidados e quem os presta. Deste modo, é um acto que implica disponibilidade emocional para lidar com o outro nas suas várias dimensões (i.e., física, psicológica, social e espiritual).
Os cuidadores informais são responsáveis por diferentes e exigentes tarefas que envolvem três componentes: 1) trabalho físico, relativo ao auxílio e/ou realização de actividades de vida diária da pessoa cuidada; 2) trabalho emocional, decorrente da dinâmica relacional entre o/a cuidador/a e a pessoa cuidada; 3) trabalho de gestão e organização das actividades de rotina que deverão ser realizadas pela pessoa cuidada.
A investigação tem vindo a prestar atenção à temática da sobrecarga do/da cuidador/a informal, centrando-se na sensação de sobrecarga (objectiva e subjectiva), no abandono do auto-cuidado, no medo de prestar cuidados e em relação ao futuro do seu familiar, na perda de papéis (familiar, sociais), na alteração económica, e no sentimento de culpa por sentir não poder fazer mais pelo seu familiar.
- Cuidados informais: stress e burnout
De salientar ainda, que muitas vezes os/as cuidadores/as informais não estão preparados/as para cuidar convenientemente, porque não possuem a formação e as competências necessárias, conduzindo a situações de elevado stress.
O stress excessivo e continuado sentido pelos/as cuidadores/as pode provocar uma deterioração do seu estado de saúde, desgaste físico e psicológico, e consequentemente conduzir ao burnout.
O conceito de burnout ficou desde o início associado aos trabalhos do psiquiatra Herbert Freudenberger (1974) e da psicóloga social Christina Maslach (1976). O primeiro autor define o burnout como um conjunto de sintomas físicos, psíquicos e psicossociais inespecíficos, derivado a um gasto excessivo de energia no trabalho, fenómeno este que se manifesta através de uma verdadeira crise de identidade, colocando em questão todas as características da pessoa, no plano físico, psíquico e relacional (Soares, 2010). Para Maslach o burnout é uma síndrome composta por três componentes: 1) a exaustão emocional (sentimentos de desgaste e esgotamento dos recursos emocionais); 2) despersonalização (adopção de atitudes negativas e distanciadas face às tarefas de prestação de cuidados); 3) realização pessoal (diminuição de expectativas pessoais e baixa auto-estima).
É por isso fundamental os/as cuidadores/as aprenderem estratégias adequadas (que em Psicologia da Saúde, são denominadas como coping) que visem controlar a discrepância entre as exigências do acto de cuidar e os recursos (físicos, psicológicos, materiais e financeiros) que se têm, conforme descrevemos de seguida:
- Reúna informação credível acerca da situação do/da seu/sua familiar, recorrendo a livros, ou sites de associações de doentes que o podem informar e orientar. Poderá igualmente, procurar essa informação junto de um/a profissional de saúde, como o/a seu/sua médico de família ou o/a enfermeiro do centro de saúde da sua área de residência. A informação e o conhecimento das situações, ajudam-nos a lidar melhor com as mesmas.
- Cuide de si diariamente. Poderá questionar-se: “Mas como é que arranjo tempo para mim, se o/a meu/minha familiar precisa de mim todo o tempo?”. A resposta a esta questão é difícil, porque cada caso é um caso, e a sua realidade só você a conhece, mas ao cuidar-se poderá ficar mais disponível emocionalmente para cuidar do/da seu/sua familiar.
Exercício
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Esta estratégia visa aumentar o bem-estar dos/das cuidadores/as informais, funcionando como um factor protector relativo à sobrecarga do acto de cuidar. O bem-estar inclui a presença de emoções e humores positivos (por exemplo, contentamento e felicidade), a ausência de emoções negativas (ansiedade), a satisfação com a vida, satisfação e funcionamento positivo (Andrews & Withey, 1976; Ryff & Keyes 1995). Em termos simples, o bem-estar pode ser descrito como um olhar positivo sobre a vida e a sensação de se sentir bem.
- Por último, outra estratégia (que tem vindo a ser desenvolvida no nosso país) e em sintonia com os dados da investigação são os programas para cuidadores/as informais. Estas são intervenções grupais com o objectivo de capacitar os/as cuidadores/as do ponto de vista informativo, emocional e social. Estes programas tem uma componente de suporte social, que visa a partilha de informação, experiências e a quebra do silêncio e solidão que os/as cuidadores/as vivem.
Em suma, quem cuida de alguém precisa também de ser cuidado, e saber a quem, como e onde recorrer ao precisar de ajuda, para atravessar a tempestade com esperança no coração, e assim poder continuar a sua própria caminhada.
Autora: Andreia Cardoso - Psicóloga Clínica, Psicoterapeuta, Formadora
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