Seria ótimo que vivêssemos num mundo em que nenhuma criança experienciasse um acontecimento de vida traumático, mas basta ligarmos a televisão ou simplesmente olharmos com atenção à nossa volta, para sabermos que tal seria utópico. Podemos também dizer muitas vezes a nós mesmos que “são demasiado novas para se lembrar” ou “não percebem o que se passa”, mas não será a repetição destas ideias que as irá tornar verdadeiras.
Após viverem ou testemunharem um evento que possa ter posto em causa a sua segurança física ou emocional, ou a dos que lhe são próximos, há vários sinais aos quais devemos estar atentos. Tratam-se de sinais complexos que podem variar de criança para criança, assim como ter expressões diferentes em diferentes momentos.
Podem surgir alterações de sono (ex. insónia, pesadelos) ou de apetite, aumento de irritabilidade ou agressividade, dificuldades de concentração na escola e nos seus projetos. Podem também surgir sintomas na linha da ansiedade, como medos intensos, dificuldade em separarem-se dos pais ou cuidadores, preocupações recorrentes sobre a segurança ou comportamentos de hipervigilância. Algumas crianças podem manifestar também maior dificuldade em regularem-se ou em voltarem a um estado de calma depois de um momento de ativação emocional. Muito importante também estarmos atentos aos gatilhos, isto é, quaisquer sinais do contexto presente apreendidos pelos sentidos que fornecem a sensação de reexperienciamento do acontecimento, como se o estivessem a viver de novo.
Como membro da família ou cuidador da criança, pode ter um papel essencial. É importante:
- Assegurar que a criança está segura e fale do que está a ser feito por si ou por outros para garantir essa segurança nos contextos para si importantes, como a casa ou a escola.
- Explicar à criança que nada do que possa ter feito ou sequer pensado contribuiu para o evento. As crianças têm tendência para se culpabilizarem deste tipo de eventos, mesmo quando estes estão completamente fora do seu controlo.
- Ser paciente. É importante dar tempo à criança para que encontre uma nova normalidade e estabilidade na sua vida; para que o mundo deixe de ser (tão) imprevisível e assustador.
Perante a intensidade de alguns sintomas é natural que, os adultos que procuram cuidar a criança, se sintam sem recursos para a melhor compreender e apoiar. Nestas situações, apoio profissional é importante para que os recursos da criança e família sejam potenciados; para que, com a garantia da sua segurança e estabilidade, o acontecimento não inunde a vida da criança, abrindo espaço para novas descobertas, desafios, aventuras e aprendizagens.
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