Acompanhar um processo de luto é, acima de tudo, um desafio pessoal que colocamos a nós próprios na relação com o outro. Tal desafio implica, de antemão, estarmos cientes de algumas premissas e termos estas premissas
bem solidificadas no nosso processo de aprendizagem:
• O luto é um processo individual e inteiramente subjetivo
• O luto é um processo oscilatório entre a orientação para a perda e a orientação para a restauração
• O luto é impulsionado por determinantes e/ou mediadores que o colocam numa trajetória dita normal, ou complicada/prolongada
• O luto implica, necessariamente, relação de confiança (empatia, aceitação incondicional e escuta ativa = envolvimento)
É na relação de confiança que estabelecemos com a pessoa em luto que podemos entender até que ponto a podemos ajudar ou nos podemos implicar no sentido de sermos um suporte à sua autoestima.
Acima de tudo, não pretendemos exercer qualquer dano sobre a pessoa em luto. Para tal, devemos enfatizar na relação de ajuda os seguintes compromissos:
• Ouvir plenamente e com toda a atenção a narrativa da pessoa em luto
• Aceitar os mecanismos de proteção que vão surgindo
• Responder sempre às necessidades relacionais
• Encaminhar sempre que necessário para um especialista
Claro está que a relação de ajuda só funciona se estivermos implicados em ajudar / acompanhar a pessoa em luto, colocando nela todo o foco e toda a confiança necessária para que ela própria faça o seu caminho de luto. Nesse sentido, vamos construindo uma nova história ao lado da pessoa em luto, em que vamos servir de alicerce à história de vida, recursos e estratégias de coping (adaptativas ou menos adaptativas), elaboração e integração de novos significados relacionados com todas as experiências do luto e a transformação das dimensões intrapessoais, interpessoais e transcendentes que vão dando um novo sentido à vida e transformando a autoestima e o bem-estar da pessoa em luto.
“(...) (o processo de luto) ainda se torna mais difícil porque não tenho ninguém para falar sobre isto, o que me deixa triste. Quando ela era viva, eu falava sempre destas coisas (das suas preocupações e anseios).” – homem, 67 anos, sobre a sua mulher.
Quando não ouvimos e entendemos de forma empática as necessidades relacionais da pessoa em luto, acabamos por não conseguir criar a relação de confiança necessária e a pessoa em luto poderá sentir-se desprotegida e não aceite. Não esqueçamos que a morte de um ente querido pode trazer a sensação de quebra de resposta a necessidades relacionais que anteriormente eram respondidas pelo falecido em relação à pessoa em luto. A integração de um luto passa, também, pela ligação contínua de forma simbólica aos aspetos da relação com a pessoa falecida e, invariavelmente, ao longo desta reconstrução de significado virá a resposta às necessidades relacionais da pessoa em luto.
Victor Sebastião
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